sexta-feira, 2 de setembro de 2011

a superação de Kaio

Kaio vence mais uma etapa

Para quem acompanhou a emocionante história dessa família cearense, que fez muita campanha para arranjar um doador de medula óssea para o Kaio, pode dar um sorriso bem grande. Eu tava na torcida e queria aqui republicar a matéria da boa notícia que li hoje no jornal. Vale a pena ler também o Ponto de Vista do repórter lá no final da matéria. Aí vai...


Exames indicam 100% de produção de células a partir da medula recebida pelo garoto em 23 de julho. Kaio está livre da anemia aplástica, mas precisará de cuidados por, pelo menos, um ano.

 Foto: Arquivo da família



Assim que soube do diagnóstico, a mulher correu para abraçar o filho e dizer algo engasgado há um ano e oito meses. “Você está curado, graças a Deus”, bradou. O rosto de Kamila Cardoso, 33, era só lágrimas de alegria.

Em seguida, abriu um sorriso ao ouvir a resposta de Kaio, 4: “Posso ir pro show do Xand?”. O garoto é fã da banda Aviões do Forró. E, por enquanto, terá de se preocupar apenas em decorar as letras do ídolo. Venceu mais uma etapa do tratamento contra a anemia aplástica.

Na última quarta-feira, 31, exames indicaram 100% das células produzidas pela nova medula óssea do pequeno. Ele foi submetido a um transplante em 23 de julho. O material foi colhido de um alemão. “Tínhamos medo de não dar 100% e a doença voltar. Eu estava no meu limite; cansada de tudo. Agora, o Klecius (marido) diz que fico só sorrindo e chorando; que estou doida (risos). Mas não é isso. É que, com a certeza do meu filho bem, vou em frente”, comenta Kamila.

Na cabeça dos pais, filmes vêm e vão. Os pensamentos remontam o dia da descoberta da doença, o tempo que ficaram enclausurados no hospital até o transplante acontecer, o medo da ronda da morte, o perigo das transfusões...Há também o ressentimento por vetos ao filho. Há um ano, Kaio não vai a festas ou ao colégio.

A vulnerabilidade decorrente da doença obrigava renúncias. E forçará algumas outras até ele ficar totalmente fora de perigo. Rejeições crônicas ou agudas podem surgir até um ano depois do procedimento.

A anemia em si, entretanto, foi vencida. “Precisamos de cuidados com alimentação, sol, higiene, contato com estranhos. O Kaio será tratado como um recém-nascido. Mas isso vamos levar com toda garra”, diz a mãe.
Para Fortaleza, Kamila, Klecius e Kaio só devem voltar em outubro ou novembro. Os 100 dias após a inserção da nova medula são fundamentais para os médicos avaliarem a evolução do garoto e as chances de alguma rejeição ocorrer.

Quando estiverem aqui, colocarão planos em prática. A começar pelas sessões de fisioterapia de Kaio, que não tem o movimento dos membros inferiores depois de sofrer uma paralisia cerebral no parto. Depois, virá a festinha de aniversário. Por fim, o começo de uma nova luta.

Kamila entra de cabeça em campanhas de captação de doadores de medula óssea. Quer reduzir dores como a da família Almeida, que perdeu Abner, 5, mês passado. Ele sofria de leucemia e era amigo de Kaio. O desenhista de baleias ainda não sabe da morte do colega.

Por ora, tenta superar outro trauma. “Ele está indignado porque a Beyoncé (cantora norte-americana) engravidou e não ligou pra ele avisando. A gente brinca, mas, depois de tanto sofrimento, quero é meu filho feliz. E ninguém segura ele”.

 ENTENDA A NOTÍCIA

As células de Kaio são 100% produzidas pela nova medula. Isso significa cura da anemia aplástica, doença que derruba as defesas do organismo a quase zero. Tecnicamente, esse trabalho da nova medula é chamado de “pega”.

PONTO DE VISTA

Certa vez, ouvi de uma jornalista que, enquanto repórter, ela evitava contatos com os personagens de suas matérias para não alterar o curso “normal” da vida. Respeito a colega. Mas discordo. Se é para não modificar, que nem haja o primeiro contato. Se não defendemos dias melhores, que não sejamos repórteres! Nem sempre se consegue fazer algo, claro. Mas daí a abrir mão dessa prerrogativa...Meu respeito também à sabedoria popular. Valiosa, mas outra vítima da regra da exceção. Erra ao disseminar que a única certeza da vida é a morte. E quanto ao estar ao lado de quem a gente gosta sem fazer nada...pelo simples desejo de estar? E os carinhos de pai e mãe? E os assaltos à geladeira em busca de brigadeiro? E as sessões pipoca com os amigos? E as paixões avassaladoras? E os sussurros ao pé do ouvido? E os sorrisos dados logo após se conseguir algo? E a ansiedade pelo resultado da prova? E a vida em si? Tudo isso não é certeza? É. E Kaio tem tudo adiante. E eu, enquanto repórter, fico feliz de ter participado, mesmo que minimamente, do novo capítulo que ele começa a escrever. Contudo, no fim das contas, foi ele quem alterou o curso “normal” da minha vida. A vontade de viver desse garoto e a garra inabalável da mãe dele alertam que, até a tal morte chegar, existem mil horizontes a serem descortinados. Dentro e fora de cada um de nós.

Por Bruno de Castro
Fonte: Jornal O Povo

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